Olivenza: a melhor arquitectura de um império

Olivenza é um lugar extraordinário a sul de Badajoz, na Espanha. Eu tive a sorte de lá ter nascido e estou emocionada por ter a oportunidade de escrever sobre isso. Na escola, tínhamos um professor que nos ensinava todos os pequenos segredos desta bela e única cidade. Deixem-me partilhá-los convosco!

Para compreender plenamente a idiossincrasia de Olivenza, é preciso saber que foi o único território português do lado direito do rio Guadiana durante cinco séculos. Para eles, possuindo-o, era uma questão de prestígio. Para se exibir diante do governo espanhol, trouxeram os melhores arquitectos e engenheiros do mundo para construir os seus maravilhosos edifícios. Tomemos a Igreja de Madalena, por exemplo.

A Igreja de Santa Maria Madalena

Church of Santa María Magdalena, Olivenza

Plaza de Santa Maria Magdalena, s/n, 06100 Olivenza, Badajoz, España

Os seus arquitectos foram os mesmos que construíram o Palácio da Pena em Sintra e o Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa. Foi construído para os bispos de... Ceuta. Sim, a cidade do norte de África! Percebem como Olivenza era vital na época? O seu primeiro bispo foi o confessor do rei D. Manuel, que depois foi transferido para o Brasil e ali oficializou a primeira missa da sua história.

A igreja é uma beleza. É uma homenagem ao mar: o mar tornou o pequeno reino português num dos maiores impérios da história. No exterior, duas cordas em pedra dividem a torre central. No seu centro, uma rosácea é rodeada por esferas representando o mundo que governaram durante o século XVI. Entrem: é tão delicado! As colunas são únicas: elas representam as ondas do mar. Se ficarmos na parte de trás da igreja, num momento específico, há um raio de luz que vem da rosácea. Quando atinge o altar dourado, tem-se a impressão de que as colunas se movem. No lado esquerdo, se olhando para cima, vê-se um medalhão no teto, representando um homem com um nariz grande. Foi um judeu teve de contribuir com muito dinheiro para a construção da igreja para poder ficar enquanto todos os outros eram expulsos. O escultor não queria que ele fosse esquecido, mesmo que fosse judeu. Então, como uma piada de mau gosto, retratou-o com um nariz enorme!

Algumas décadas mais tarde, Portugal ficou sob o domínio de Espanha, e o Rei Filipe II decidiu que também ele tinha de construir algo que competisse com todas as obras-primas anteriores. Construiu a Igreja de Santa Maria do Castelo, no seu estilo particular, mais austero e sóbrio que a alegre Madalena, mas igualmente imponente.

Arquitetura Militar

No entanto, Olivenza era, antes de tudo, uma cidade defensiva, por isso a arquitectura militar era fundamental. Um discípulo de Descartes trabalhou aqui como engenheiro. Para facilitar o acesso a partir de Portugal, o mesmo rei, D. Manuel, construiu uma enorme ponte (380 metros), com o nome muito explícito de 'Ayuda' (Ponte da Ajuda). Claro que não durou muito tempo: menos de três séculos depois, foi rebentada. No entanto, só faltam os arcos centrais, enquanto os restantes estão em perfeitas condições. Costumava ter uma enorme torre no meio que servia de posto de controlo.

Puente Ajuda, Olivenza

QRHH+5HQ, 7350 Sra. da Ajuda, Portugal

Olivenza costumava ser uma fortaleza templária. O seu nome provinha da enorme quantidade de oliveiras que crescem nestas terras férteis. Enquanto esteve em mãos portuguesas, o rei construiu a torre de menagem mais alta do país: 36 metros (como um edifício de 15 andares), uma provocação orgulhosa para as vilas espanholas próximas. No interior, 17 rampas permitem ir até ao topo. Os militares mais importantes podiam subir a cavalo, como na Giralda Sevilhana. À sua volta, alguns anéis das muralhas da cidade. Para além disso, um fosso medieval foi revelado recentemente. No passado, havia casas construídas sobre ele. Os seus habitantes costumavam queixar-se da humidade!

Castle of Olivenza

Plaza Sta. María, s/n, 06100 Olivenza, Badajoz, España

Diz-se que em breve será construída uma auto-estrada, melhorando a sua ligação à capital, Badajoz, Madrid e Portugal, via Elvas. Mas é engraçado, não há sinal de boas-vindas quando se atravessa o rio Guadiana e se chega oficialmente a Portugal: já está neste país se vier de Olivenza! Além disso, até 2017, a CIA americana pensava que Olivenza era tão perigosa como Gaza ou a Cisjordânia e aconselhava os seus cidadãos a nunca lá irem. Os meios de comunicação nacionais espanhóis achavam-no hilariante e durante anos foi notícia...

Hoje em dia, as pessoas aqui nascidas têm o direito à dupla nacionalidade. Até nos é permitido votar em Portugal! Penso que é um exemplo muito bom para outras regiões: Olivenza orgulha-se de ser simultaneamente espanhola e portuguesa. Como diz uma canção local: "as raparigas de Olivença não são como as outras, porque são filhas de Espanha e netas de Portugal".